Muitas
pessoas perguntam: “quem pode exercer a psicanálise e quais as
diferenças entre essa prática e as executadas pelos psicólogos e
pelos psiquiatras?”.
Já
vimos no artigo anterior , “Como surgiu a psicanálise” , que, no
Brasil, a profissão de psicanalista não é reconhecida, ou seja, o
psicanalista como tal não existe no Código Brasileiro das
Ocupações. Isso não impede que existam pessoas com formações
diferentes que exerçam a psicanálise e conseqüentemente, acarreta
diferentes maneiras de trabalhar.
O
mais freqüente é encontramos pessoas que trabalham com a
psicanálise e são formadas inicialmente em Psicologia ou em
Medicina – o que permite que a pessoa tenha um CRP ou CRM para
efeitos legais. Não existe faculdade de Psicanálise no Brasil
e em nenhum outro país. Coloca-se então a questão da formação do
psicanalista como algo que se dá fora do âmbito universitário.
Voltarei a isso daqui a pouco. No momento, consideremos que os
profissionais psicanalistas no Brasil são geralmente aqueles que têm
a formação em Medicina ou Psicologia.
Nada garante que um médico (geralmente psiquiatra) está apto a exercer a psicanálise. Não há, obrigatoriamente, nas chamadas “residências” (de psiquiatria) uma formação voltada para o trabalho psicanalítico. Uma ou outra instituição inclui uma abordagem psicanalítica, mas, sabemos, a psiquiatria tem sua especificidade e não dá para formar psiquiatra e psicanalista ao mesmo tempo. Nada garante também que um psicólogo está apto a exercer a psicanálise. A Psicologia forma psicólogos e, como tal, também é uma formação muito específica. Nenhuma das duas (Medicina ou Psicologia) prepara o psicanalista.
Da
mesma maneira que um médico ou um psicólogo não estão aptos a
exercer a psicanálise, um psicanalista não está apto nem pode
exercer a medicina. Quanto a exercer sua função como psicólogo, se
o faz, não faz psicanálise.
O
que torna apta uma pessoa para exercer a psicanálise?
Fundamentalmente
uma análise pessoal. A análise pessoal permite àquele que pretende
exercer a psicanálise a condição primeira para se colocar como
psicanalista. Explico: quem busca um psicanalista busca um caminho
muito específico. Este caminho deve ter sido percorrido pelo
profissional que vai atendê-lo. Caberia aqui uma apresentação do
que é uma análise e o que ela produz numa pessoa. Deixarei esse
tópico para o próximo artigo e tratarei primeiro, de uma maneira
que prepare o terreno, das diferenças entre as práticas da
psicanálise, da psicologia e da psiquiatria.
A
psiquiatria é uma especialização da medicina. De uma maneira
geral, o psiquiatra tem uma formação onde estuda as manifestações
do sofrimento psíquico humano consideradas como “doenças mentais”
. Estas doenças estão descritas no Código Internacional das
Doenças. Para elas, há indicação de medicamentos específicos e
quem pode prescrevê-los é primordialmente o psiquiatra, embora
outros médicos também o façam. Atualmente as pessoas que
experimentam estados depressivos, ansiedade, medo, variação de
humor, alterações de apetite, de sono, de aprendizagem, de desejo
sexual, encontram na psiquiatria um recurso pela via do medicamento
para tratar-se. É uma escolha por parte de quem busca. Compreender
seu sofrimento psíquico como doença, sua tristeza (ou estados de
luto por perdas as mais diversas) como depressão, sua ansiedade,
seus medos e suas variações como decorrentes da falta de alguma
substância no cérebro que poderia ser “consertada” com o
medicamento. Tratar a “dor de existir” com remédios.
Abordei
a relação da medicina frente aos sintomas produzidos pela "dor
de existir", a maneira como a psiquiatria a compreende. Abordo
agora a psicologia. A psicologia é fundamentalmente o estudo do
comportamento humano. E o psicólogo é aquele que, a partir desse
estudo, trata o sofrimento humano. Há diversas correntes teóricas
na psicologia. Atualmente, as mais usadas são as chamadas Terapias
Cognitivas Comportamentais. Elas se propõem a alterar a maneira
como uma pessoa reage frente a diversas situações, tais como medos,
mal estar corporal (experiência de sintomas físicos hoje chamados
de síndrome do pânico, por exemplo) e outras dificuldades, com
técnicas que “ensinam” uma resposta diferente. Enfocam o
problema não como a expressão de algo mais complexo da pessoa, mas
como algo a ser alterado. Tratam, por exemplo, o medo de andar de
avião ou de usar elevadores, como se fossem o problema em si e não
a manifestação de algo da pessoa na sua relação com a vida, num
sentido mais amplo. O que seria para a psicanálise um sintoma, ou
seja, a expressão de uma dificuldade a ser explicitada, é tratado
como algo a ser extirpado, retirado da vida da pessoa e
evidentemente, isso tem conseqüências psíquicas. É uma aparente
simplificação. Aparente porque, na busca de algo rápido, o que se
faz muitas vezes é semelhante à situação de alguém que, ao
perceber um vazamento na parede de sua casa, veda o buraco pelo qual
a água escorre mas não conserta o cano. É claro que a água vai
vazar em outro ponto.
No
que diz respeito à aplicação clínica a psicologia e a
psicanálise são profundamente diferentes em sua compreensão do
psiquismo humano e os resultados da intervenção do psicólogo e da
intervenção do psicanalista são diferentes também.
O
importante é ressaltar que a psiquiatria, a psicologia e a
psicanálise têm suas diferenças e suas especificidades. Cada uma
delas têm o seu lugar na cultura, e oferecem caminhos diferentes
para o sofrimento humano.
Necessário
se faz ainda reconhecer que existem práticas que incluem
experiências exotéricas, experiências com substâncias químicas,
com intervenções corporais, com uso de hipnose, com propostas de
regressão e de retornos a vidas passadas, entre outras, que são
hoje apresentadas ao público como psicanálise. Ressalto que são
caminhos que podem ser desejados e escolhidos por quem quer que seja.
O problema sério é dizer que isso é psicanálise.
Psicanálise
é um tratamento do sofrimento humano fora do medicamento e fora de
conselhos, regressões, condicionamentos. É um caminho percorrido
pela via de uma análise pessoal que considera, primordialmente, o
inconsciente.
Abordarei
esse tema na próxima semana.
Elisabeth
Almeida – psicanalista
bethxxxalm@yahoo.com.br
Muito bem,mas quero assegurar que psicologia não é só,e apenas um aconselhamento,um condicionamento.O psicólogo está a serviço do bem estar psíquico,ele não é detentor da vida do outro,não conduz o outro a ser ou fazer algo que não seja da vontade desse outro,e sim levar o cliente a ser quem ele é,e não sentir vergonha de si mesmo.
ResponderExcluirPara exercer a Psicanálise é imprescindível estudar profundamente e exaustivamente a teoria psicanalítica, que é imensa e não é fácil. Só de Freud são 24 volumes.
ResponderExcluirMuito boa a sua postagem, só acrescentaria que para uma boa formação em Psicanalise é preciso seguir o tripé psicanalítico (análise pessoal, teoria e supervisão).
ResponderExcluirExcelente distinção entre os termos,os quais,por vezes, são confundidos. Acrescentaria na conceituação de Psicanálise, além de tudo que já foi dito que "A Psicanálise é o meio utilizado para se entender as causas dos transtornos, antigas ou atuais, e de posse desse conhecimento, tratá-las com todos os recursos não físicos ou farmacológicos, de modo a proporcionar aos pacientes uma vida psíquica normal e com menor sofrimento".
ResponderExcluirO tema e psicanálise e acabou abordando mais efetivamente psicologia e psiquiatria... Toda matéria é assim... parece que nem vocês se entendem... Seja objetiva no tema por gentileza
ResponderExcluirnao entendi, como assim, nao precisa de curso, precisa de curso, quem quiser pode atuar, ou precisa de alguma coisa pra atuar ?
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