domingo, 15 de abril de 2012

Quem pode exercer a psicanálise?


 Muitas pessoas perguntam: “quem pode exercer a psicanálise e quais as diferenças entre essa prática e as executadas pelos psicólogos e pelos psiquiatras?”.
Já vimos no artigo anterior , “Como surgiu a psicanálise” , que, no Brasil, a profissão de psicanalista não é reconhecida, ou seja, o psicanalista como tal não existe no Código Brasileiro das Ocupações. Isso não impede que existam pessoas com formações diferentes que exerçam a psicanálise e conseqüentemente, acarreta diferentes maneiras de trabalhar.
O mais freqüente é encontramos pessoas que trabalham com a psicanálise e são formadas inicialmente em Psicologia ou em Medicina – o que permite que a pessoa tenha um CRP ou CRM para efeitos legais. Não existe faculdade de Psicanálise no Brasil e em nenhum outro país. Coloca-se então a questão da formação do psicanalista como algo que se dá fora do âmbito universitário. Voltarei a isso daqui a pouco. No momento, consideremos que os profissionais psicanalistas no Brasil são geralmente aqueles que têm a formação em Medicina ou Psicologia.

      Nada garante que um médico (geralmente psiquiatra) está apto a exercer a psicanálise. Não há, obrigatoriamente, nas chamadas “residências” (de psiquiatria) uma formação voltada para o trabalho psicanalítico. Uma ou outra instituição inclui uma abordagem psicanalítica, mas, sabemos, a psiquiatria tem sua especificidade e não dá para formar psiquiatra e psicanalista ao mesmo tempo. Nada garante também que um psicólogo está apto a exercer a psicanálise. A Psicologia forma psicólogos e, como tal, também é uma formação muito específica. Nenhuma das duas (Medicina ou Psicologia) prepara o psicanalista.
   Da mesma maneira que um médico ou um psicólogo não estão aptos a exercer a psicanálise, um psicanalista não está apto nem pode exercer a medicina. Quanto a exercer sua função como psicólogo, se o faz, não faz psicanálise.  
O que torna apta uma pessoa para exercer a psicanálise? 
Fundamentalmente uma análise pessoal. A análise pessoal permite àquele que pretende exercer a psicanálise a condição primeira para se colocar como psicanalista. Explico: quem busca um psicanalista busca um caminho muito específico. Este caminho deve ter sido percorrido pelo profissional que vai atendê-lo. Caberia aqui uma apresentação do que é uma análise e o que ela produz numa pessoa. Deixarei esse tópico para o próximo artigo e tratarei primeiro, de uma maneira que prepare o terreno, das diferenças entre as práticas da psicanálise, da psicologia e da psiquiatria.
A psiquiatria é uma especialização da medicina. De uma maneira geral, o psiquiatra tem uma formação onde estuda as manifestações do sofrimento psíquico humano consideradas como “doenças mentais” . Estas doenças estão descritas no Código Internacional das Doenças. Para elas, há indicação de medicamentos específicos e quem pode prescrevê-los é primordialmente o psiquiatra, embora outros médicos também o façam. Atualmente as pessoas que experimentam estados depressivos, ansiedade, medo, variação de humor, alterações de apetite, de sono, de aprendizagem, de desejo sexual, encontram na psiquiatria um recurso pela via do medicamento para tratar-se. É uma escolha por parte de quem busca. Compreender seu sofrimento psíquico como doença, sua tristeza (ou estados de luto por perdas as mais diversas) como depressão, sua ansiedade, seus medos e suas variações como decorrentes da falta de alguma substância no cérebro que poderia ser “consertada” com o medicamento. Tratar a “dor de existir” com remédios.  
Abordei a relação da medicina frente aos sintomas produzidos pela "dor de existir", a maneira como a psiquiatria a compreende. Abordo agora a psicologia. A psicologia é fundamentalmente o estudo do comportamento humano. E o psicólogo é aquele que, a partir desse estudo, trata o sofrimento humano. Há diversas correntes teóricas na psicologia. Atualmente, as mais usadas são as chamadas Terapias Cognitivas Comportamentais. Elas se propõem a alterar a maneira como uma pessoa reage frente a diversas situações, tais como medos, mal estar corporal (experiência de sintomas físicos hoje chamados de síndrome do pânico, por exemplo) e outras dificuldades, com técnicas que “ensinam” uma resposta diferente. Enfocam o problema não como a expressão de algo mais complexo da pessoa, mas como algo a ser alterado. Tratam, por exemplo, o medo de andar de avião ou de usar elevadores, como se fossem o problema em si e não a manifestação de algo da pessoa na sua relação com a vida, num sentido mais amplo. O que seria para a psicanálise um sintoma, ou seja, a expressão de uma dificuldade a ser explicitada, é tratado como algo a ser extirpado, retirado da vida da pessoa e evidentemente, isso tem conseqüências psíquicas. É uma aparente simplificação. Aparente porque, na busca de algo rápido, o que se faz muitas vezes é semelhante à situação de alguém que, ao perceber um vazamento na parede de sua casa, veda o buraco pelo qual a água escorre mas não conserta o cano. É claro que a água vai vazar em outro ponto.
No que diz respeito à aplicação clínica a psicologia e a psicanálise são profundamente diferentes em sua compreensão do psiquismo humano e os resultados da intervenção do psicólogo e da intervenção do psicanalista são diferentes também.
O importante é ressaltar que a psiquiatria, a psicologia e a psicanálise têm suas diferenças e suas especificidades. Cada uma delas têm o seu lugar na cultura, e oferecem caminhos diferentes para o sofrimento humano.
Necessário se faz ainda reconhecer que existem práticas que incluem experiências exotéricas, experiências com substâncias químicas, com intervenções corporais, com uso de hipnose, com propostas de regressão e de retornos a vidas passadas, entre outras, que são hoje apresentadas ao público como psicanálise. Ressalto que são caminhos que podem ser desejados e escolhidos por quem quer que seja. O problema sério é dizer que isso é psicanálise.
Psicanálise é um tratamento do sofrimento humano fora do medicamento e fora de conselhos, regressões, condicionamentos. É um caminho percorrido pela via de uma análise pessoal que considera, primordialmente, o inconsciente.
Abordarei esse tema na próxima semana.

Elisabeth Almeida – psicanalista
bethxxxalm@yahoo.com.br

6 comentários:

  1. Muito bem,mas quero assegurar que psicologia não é só,e apenas um aconselhamento,um condicionamento.O psicólogo está a serviço do bem estar psíquico,ele não é detentor da vida do outro,não conduz o outro a ser ou fazer algo que não seja da vontade desse outro,e sim levar o cliente a ser quem ele é,e não sentir vergonha de si mesmo.

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  2. Para exercer a Psicanálise é imprescindível estudar profundamente e exaustivamente a teoria psicanalítica, que é imensa e não é fácil. Só de Freud são 24 volumes.

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  3. Muito boa a sua postagem, só acrescentaria que para uma boa formação em Psicanalise é preciso seguir o tripé psicanalítico (análise pessoal, teoria e supervisão).

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  4. Excelente distinção entre os termos,os quais,por vezes, são confundidos. Acrescentaria na conceituação de Psicanálise, além de tudo que já foi dito que "A Psicanálise é o meio utilizado para se entender as causas dos transtornos, antigas ou atuais, e de posse desse conhecimento, tratá-las com todos os recursos não físicos ou farmacológicos, de modo a proporcionar aos pacientes uma vida psíquica normal e com menor sofrimento".

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  5. O tema e psicanálise e acabou abordando mais efetivamente psicologia e psiquiatria... Toda matéria é assim... parece que nem vocês se entendem... Seja objetiva no tema por gentileza

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  6. nao entendi, como assim, nao precisa de curso, precisa de curso, quem quiser pode atuar, ou precisa de alguma coisa pra atuar ?

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