Ao tomar conhecimento de que há, no
momento, um projeto de lei que pretende proibir a transmissão de
lutas pela TV, com o intuito de resguardar crianças, adolescentes,
jovens e até mesmo adultos, de assistir a cenas violentas
explícitas, pergunto:
─
Por que será que existem
pessoas que procuram as MMA (Mixed Martial Arts) – combates de
vale-tudo? Por que as academias estão implantando esta modalidade e
o público tem aderido? Por que tem gente que liga a TV para
assistir?
─ Na mesma linha de raciocínio, por que tem gente que cria videogames violentos e tem gente que joga?
─
Por que tem gente que faz
festas com seus fetiches e tem gente que as freqüenta?
De certa forma, penso que o mundo
está muito melhor.
Acho complicada a idéia de que a
divulgação, a oferta e a propaganda são as “causadoras” do
interesse das pessoas. Ao contrário, podemos pensar que primeiro
alguém quis fazer de seus desejos ou fantasias algo compartilhável.
Por exemplo, imaginemos uma pessoa que experimentava sua
agressividade solta, desprendida, circulando dentro de si, sabendo
que ela poderia eclodir a qualquer momento, tanto sobre ela mesma ou
sobre algum outro. Essa pessoa resolve procurar alguém que tope a
parada, num vale-tudo. Pronto. Aí está o MMA e duas pessoas que
consentem no exercício da agressividade.
Isso será um problema? Afastando-me
um pouco das idéias prontas, pergunto-me se não será mais
saudável. Explico: quando uma pessoa tem a oportunidade de inscrever
sua agressividade numa atividade (como no vale-tudo), sua
agressividade fica menos exposta a ser usada em qualquer um, a
qualquer momento.
Somos humanos. Não somos anjos. Há
quem porte essa agressividade de uma maneira muito intensa, muito
desordenada, muito sofrida para si e para os outros. Geralmente quem
a tem nessa intensidade, acaba exercendo-a sobre o outro de uma
maneira bem cruel. Curiosamente, ela pode ser exercida de maneira
explícita (no trânsito, nos cargos de poder, nas relações
amorosas e familiares) ou de maneira velada, travestida de boas
intenções.
Há quem a inscreva, reconhecendo-a,
fazendo com ela, por exemplo, um vale-tudo consentido pelo parceiro.
Há quem, assistindo, seja de perto ou pela TV, experimenta uma
catarse da própria violência que o habita.
Nessa mesma direção podemos pensar
os videogames, os sites eróticos da internet, as casas de fetiches.
A mídia vem depois. Ela vem mostrar
que isso existe. Proibir a mídia de expor é algo problemático. É
recusar a existência, a priori, de desejos e fantasias que nos
habitam, em menor ou maior grau. É querer que a violência ou os
desejos sejam mais intensos ainda – em sua negação – que as
fantasias se alimentem ainda mais – em seu silêncio – que
aqueles que as portam sofram mais, sintam-se mais excluídos, menos
humanos.
Lutas, jogos, sites, casas de
diversão são criações que podem dar um lugar àquilo que excede,
que envergonha, que oprime um ser humano.
A mídia é espelho muito mais que
mecanismo indutor das experiências humanas.
Elisabeth Almeida- psicanalista
bethxxxalm@yahoo.com.br
Nenhum comentário:
Postar um comentário