segunda-feira, 5 de março de 2012

Realidade psíquica e sexualidade.


          Nossa tentativa de considerar uma realidade que não é a realidade do mundo, de levar em conta que algo em nós se apresenta tão distintamente, tão singularmente, nos levou a refletir sobre a realidade psíquica.
          Dela dissemos ser a fresta pela qual respiramos, teimamos em nossa singularidade, temos a possibilidade de criar, de inventar, de sonhar.
          Encontramos na sexualidade o campo que mais diretamente pode nos apresentar as nuances da realidade psíquica.
          Partindo da compreensão de que as brincadeiras infantis são manifestações da vida psíquica, de que nelas, na aparente simplicidade de seus elementos há uma complexidade de significações, estamos propondo que esta mesma relação – de elementos simples tecidos por complexidades – se apresenta na vida sexual. Ou seja, primeiro brincamos, depois, continuamos repetindo a brincadeira na sexualidade.
         Quais os espaços de nossas vidas – fora da vida convencional e necessária – podem acolher nossa realidade psíquica?
         O espaço das fantasias e o campo da sexualidade podem fazê-lo. Claro, considerando inclusive que eles podem se mesclar. Explico: há fantasias que dizem respeito a conquistas, a aquisições, aparentemente sem conteúdo sexual. E há as fantasias que se evidenciam como sexuais.
          Entre outros aspectos, dentre os discutidos sobre a realidade psíquica, nos detivemos na questão da dor – seja ela na vertente de produzir a dor ou na vertente de experimentar a dor.
         Questão curiosa. A dor como elemento a ser considerado, a não ser excluído da experiência humana.
         Qual seria o resultado de usar a sexualidade como campo de acolhimento para as experiências de dor?
        Qual o resultado, numa sexualidade partilhada e consentida, da inclusão dessas experiências?
         Por que será que a dor evidenciada nas relações não-sexuais é tão admitida, suportada, aceita?
          Que elemento é esse que portamos e insistimos como “fazendo parte da vida”?
         “Faz parte da vida” imprimir dor ao outro ou sofrer dela no trabalho, nos relacionamentos, no exercício de funções.
           Faz parte do proibido, é moralmente considerada como perversão sua inclusão na sexualidade, no jogo sexual consentido.
           Por um lado, “perventendo” a vida – permitindo o exercício sobre o outro ou sobre si e o conseqüente desfrute – por outro, “empobrecendo” a vida sexual – retirando dela um dos elementos que poderiam, talvez, se exercitados no âmbito do jogo da fantasia, não necessitar passar diretamente para a realidade do mundo.

(texto elaborado a partir do encontro do dia 28 de fevereiro de 2012, com a colaboração de Ana Paula G. Garcia).

Nenhum comentário:

Postar um comentário